Dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) indicam que quase metade dos meninos e meninas que não estão na escola vivem em países em situação de conflito armado. Mesmo diante desse quadro, há um percentual muito baixo da ajuda internacional humanitária destinada a investimentos em educação para garantir esse direito social às crianças vítimas desse contexto. As guerras prejudicam o acesso à educação, tornando-se um dos principais motivos do fracasso da comunidade internacional em garantir esse que é o direito humano mais básico de todos, que se trata do acesso à educação.
Nos países que vivem conflitos armados, milhões de crianças estão privadas do seu direito de ter acesso à escola e ao sistema formal de ensino, aumentando as desigualdades entre as nações do mundo. São nestes países que se verificam os níveis mais baixos de alfabetização de sua população infantil. Em contextos de guerra e conflitos armados, as crianças e jovens ficam expostos a outras muitas situações de risco, como o aumento da violência sexual e da mortalidade infantil. Além de serem alvos fáceis de ataques, com escolas destruídas e aumento das violações dos direitos humanos, as guerras afetam as condições cognitivas para o aprendizado, gerando um clima de medo e paralisia generalizados, mantendo as pessoas em suas casas ou abrigos, isoladas de tudo e de todos, promovendo rupturas familiares que se perpetuam para sempre.
Na análise da UNESCO “a comunidade internacional anda ocupada com outras tarefas mais lucrativas. Sem dúvida, o gasto em armamentos militares consome os recursos que os países doadores poderiam destinar em apoio à educação das crianças das nações pobres. Somente com o que os países ricos dedicam a gastos militares durante seis dias, seria possível anular o déficit anual de financiamento do programa “Educação para Todos”, avaliado em 16 milhões de dólares”.
A prioridade de um mundo em guerra é o aumento vertiginoso dos gastos militares que servem, no fim das contas, para alimentar ainda mais a economia da guerra. O caos gerado pelas guerras em todo o mundo se presta a dar sobrevida a um sistema que tira das pessoas seus direitos humanos mais básicos, como a saúde, a educação e à própria alimentação.
Ao declarar guerra contra a Ucrânia, a Rússia termina por não evidenciar à comunidade internacional que é um dos países do mundo que possui um dos níveis de analfabetismo mais baixos do planeta, com apenas 0,6% de sua população ainda precisando ser alfabetizada. Ou seja, 99,4% da sua população sabe ler e escrever e conta com um sistema educacional básico que tem duração de nove anos. O seu ensino secundário pode ser concluído entre dois e três anos e o ensino superior, que possui quatro anos de duração, pode ser estendido com mais dois anos para o/a estudante russo fazer uma pós-graduação. Para fazer o doutorado, a população russa precisa de mais três anos de estudos. Pela potência que foi e é ainda hoje, a Rússia tem um bom desempenho na formação escolar e acadêmica da sua população, mas, devido a essa guerra, o país poderá ter impactos negativos na educação de seu povo. A decisão do Presidente Vladimir Putin de iniciar uma guerra poderá trazer sérias consequências para o seu país e para muitos outros do resto do mundo, em especial os seus vizinhos.
Na Ucrânia, a educação escolar tem acesso gratuito e, até a conclusão do ensino secundário, o ensino no país é obrigatório nas escolas públicas. O acesso ao ensino superior também é gratuito nas instituições públicas. O país, até os dias atuais, continua com a educação compartilhada oriunda ainda dos tempos da União Soviética e, por isso, conta com 99,7% da sua população acima de 15 anos de idade totalmente alfabetizada. A partir dos seis anos de idade o ensino primário tem quatro anos de duração, o ensino fundamental dura cinco anos e o ensino médio possui três anos de duração, com a possibilidade da formação em nível superior, com no mínimo, quatro anos.
Com as informações e os dados acima, fico a imaginar o que leva os líderes desses países a abandonar o diálogo para a resolução de seus conflitos e a promoverem uma guerra insana que desmonta toda a estrutura social que conta a população de seus países. E bate uma grande tristeza olhar os números da educação em nosso país que, mesmo não estando em conflito armado com nenhuma outra nação, abandona e destrói seu povo, negando o seu direito humano básico à educação escolar e acadêmica.
O Brasil tem cerca de 11 milhões de analfabetos, 5,1 milhões de crianças e adolescentes, com idade de 4 aos 17 anos, não contaram com o acesso à escola no ano de 2020. Entre nossos jovens, população de idade correspondente dos 14 aos 29 anos de idade, 10 milhões não tinham terminado alguma das etapas da educação básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio). Temos apenas pouco mais de 2 milhões de jovens brasileiros nas universidades públicas. Infelizmente, no Brasil de hoje, a elite do dinheiro promove uma guerra permanente contra a maioria do nosso povo, negando os direitos humanos e sociais básicos para que possamos viver com dignidade. Precisamos manter em alta a nossa indignação com a situação que passa o nosso povo e valorizar muito o nosso voto nas eleições de outubro deste ano.
(Brasil de Fato Pernambuco, artigo de Heleno Araújo com edição de Vanessa Gonzaga, 3/03/2022)
Fonte: SINPRO-DF