Foram divulgados recentemente os resultados da prova Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) de 2021, realizada pela Secretaria Estadual de Educação. Conforme esperado, a tragédia educacional brasileira, seriada pela pandemia e pelo descaso, aparece claramente. As notas de matemática e língua portuguesa dos alunos de 5º ano do ensino fundamental regrediram 7 anos.
Em 2019, 44% dos alunos do 5º ano estavam com conhecimentos em matemática abaixo do adequado. Em 2021, essa proporção subiu mais de 20 pontos percentuais. No 9º e 3º ano, a tragédia parece um pouco menor, mas acho que só porque a parte inferior da distribuição de notas abandonou a escola.
A dificuldade de substituir a escola com aulas on-line está documentada em um trabalho recente do economista Guilherme Lichand e coautores, que usam dados de São Paulo e mostram que, durante o fechamento de escolas, o risco de abandono escolar aumentou mais de 300%, e o desempenho em testes foi equivalente aos estudantes terem aprendido a terça parte do que aprendiam com aulas presenciais.
Se esse foi o efeito do fechamento de escolas em São Paulo, imaginem o que aconteceu em pequenos municípios pelo resto do Brasil.
É claro que a pandemia tomou todo mundo de surpresa, e a capacidade do estado de reagir e montar um esquema de aulas on-line foi prejudicada pela falta de acesso à tecnologia por parte de alunos e professores, pela falta de capacitação de professores para darem aulas on-line e pela magnitude do choque econômico e social.
Mas, acima de tudo, houve uma falta de vontade política, que, como é de costume no Brasil, coloca a educação em último lugar.
A resposta do sistema de saúde brasileiro à pandemia foi, tirando o mau exemplo do governo federal e de médicos cloroquinistas, excelente. O sistema descentralizado brasileiro permitiu que o SUS funcionasse tanto no cuidado com os doentes como na fase posterior, na aplicação de vacinas.
Portanto, a diferença entre o que aconteceu com a educação e a saúde não se deve ao mau funcionamento do Estado brasileiro, e sim às prioridades dadas pelos governantes. Como sempre aconteceu no Brasil, a educação é algo que pode esperar.
Esse resultado não é surpreendente. Alguns trabalhos acadêmicos que relacionam qualidade da educação com resultados eleitorais dos governantes mostram que os eleitores premiam pouco as melhorias educacionais. Políticas que expandem o acesso à saúde e sua qualidade geram muito mais votos, em parte, porque seus benefícios são vistos no curto prazo.
No entanto, o custo da baixa escolaridade e da pouca qualificação se nota na baixa produtividade do trabalhador brasileiro, na alta taxa de informalidade no mercado de trabalho, nas exorbitantes taxas de gravidez na adolescência, no nível de criminalidade, na baixa participação eleitoral dos jovens, entre outras consequências.
Poucas coisas são mais urgentes hoje do que conseguir trazer os jovens de volta para a escola e recuperar o aprendizado perdido. Todos as esferas de governo, desde o municipal até o federal, deveriam estar pensando nesse problema conjuntamente.
Por
Claudio Ferraz em O GLOBO