Durante os últimos 30 anos da minha vida, tive a oportunidade de visitar diversos municípios, conhecendo de perto o funcionamento das secretarias municipais de educação. Esse contato constante com gestores, coordenadores e outros profissionais da educação me permitiu observar as dinâmicas que permeiam o ambiente escolar e as tomadas de decisão dentro das instituições públicas. Agora, com a transição de gestão em algumas dessas secretarias, enquanto outras seguem com suas equipes, acredito ser pertinente trazer uma reflexão sobre um fenômeno que muitas vezes passa despercebido, mas que pode impactar profundamente a qualidade da educação: a Síndrome do Pequeno Poder (SPP).
A Síndrome do Pequeno Poder se manifesta quando alguém que ocupa uma posição de autoridade, por menor que seja, utiliza dessa posição para agir de forma autoritária e centralizadora. Nas secretarias de educação, isso pode ocorrer tanto entre gestores como em níveis mais operacionais, onde o foco acaba sendo o controle, e não o desenvolvimento colaborativo de soluções. O poder, mesmo que limitado, torna-se uma ferramenta de autoafirmação, muitas vezes sem levar em consideração o impacto real sobre o trabalho em equipe ou o progresso dos projetos educacionais.
Ao longo dos anos, observei como essa síndrome pode se infiltrar nas secretarias municipais de educação e gerar desafios para o bom andamento das políticas públicas. Em alguns municípios, a transição de gestão traz um novo fôlego e a oportunidade de deixar para trás práticas autoritárias, enquanto em outros, a continuidade de certas lideranças pode significar a manutenção de comportamentos pouco colaborativos.
A SPP pode se manifestar de diferentes formas:
Além dos servidores públicos envolvidos diretamente nas secretarias, há um grupo significativo de profissionais externos que também enfrentam as barreiras impostas pela SPP. Esses profissionais, como os representantes de empresas de livros e projetos didáticos, muitas vezes deixam seus lares e famílias, viajando por longas distâncias e enfrentando estradas perigosas para contribuir com a educação. No entanto, eles se deparam frequentemente com decisões centralizadoras e com a falta de abertura ao diálogo, o que dificulta a implementação de soluções que poderiam beneficiar o setor educacional. Isso não afeta apenas um grupo específico, mas muitos outros profissionais dedicados que prestam serviços às secretarias de educação.
Neste momento em que algumas secretarias estão passando por mudanças e outras seguirão com suas gestões atuais, é fundamental haver uma reflexão sobre como o poder é exercido dentro dessas instituições. A renovação oferece uma excelente oportunidade para se pensar em lideranças mais colaborativas, abertas ao diálogo e comprometidas com o desenvolvimento da equipe como um todo. Já a continuidade pode ser uma chance de aprimorar as práticas existentes, buscando um equilíbrio entre autoridade e respeito pelas contribuições de todos.
A Síndrome do Pequeno Poder é um obstáculo que pode atrapalhar o progresso das secretarias de educação e prejudicar o desenvolvimento de uma educação de qualidade. Seja em momentos de renovação ou continuidade, é vital que as lideranças educacionais se comprometam com práticas que favoreçam o diálogo, o respeito e a cooperação. Só assim será possível construir equipes coesas e garantir que as políticas públicas cheguem até as escolas de forma eficiente, promovendo o bem-estar de todos os envolvidos no processo educacional.
Que possamos, juntos, refletir sobre como podemos contribuir para um ambiente mais democrático e colaborativo, onde o poder seja utilizado não como forma de controle, mas como uma ferramenta para promover a transformação positiva da educação.
Qualquer dia eu chego na sua secretaria para um café...
David.